Livro: “Os Irmãos Karamázov”

Já faz alguns dias que terminei esse livro. Mas não consegui escrever sobre ele de imediato. Mesmo nesse momento, enquanto estou aqui sentada pensando nas 999 páginas lidas, não consigo achar uma forma de simplificar uma obra tão grandiosa e complexa.

Eu tinha lido “Crime e Castigo” do mesmo escritor. Gostei do livro, mas não chega nem perto do arrebatamento que “Os Irmãos Karamázov” causou em mim. O problema é que fiquei com a sensação de “quero mais”. Foi como se os personagens fossem pessoas reais e alguém estivesse contando os eventos, mas ainda ficasse faltando muito mais coisa. Eu queria saber mais… saber o que viria a seguir…

Há ódio e amor, injustiça e perdão. Questionamentos sobre a influência do meio, da criação, da ‘genética’ (mesmo sem que esse termo exato seja usado na obra), naquilo em que as pessoas se transformam. Há aspectos da religião, mas há a compaixão que está além da religião e que é tão mais importante do que ela.

O livro foi publicado em 1880. Excetuando-se as vantagens tecnológicas de hoje em dia (que ajudariam a mudar consideravelmente o curso da história), todos os questionamentos filosóficos, psicológicos, religiosos, são muito atuais.

Os 3 irmãos me conquistaram, cada um à sua forma. Aliocha Karamázov principalmente. Se o mundo tivesse mais pessoas como ele, tudo seria muito melhor. E não acho que ele seja um personagem impossível de existir; ele foi construído de forma crível. Apenas está entre aquelas pessoas que são raras no mundo. Aquelas pessoas que lutam pelo justo, pelo correto, não importa o que tenham que fazer.

E isso é tão admirável! E tão difícil! Quantas vezes nos calamos frente a uma injustiça, a um ato de violência? Quantos pequenas ações corruptas testemunhamos? Quantas vezes não tentamos impor nossas opiniões como se fossem certezas absolutas? Quantas vezes paramos para escutar o que os outros têm a dizer… não apenas as palavras, mas os silêncios escondidos por trás das palavras?

E os personagens do livro, em especial Aliocha e o Padre Zossima, mostram que as virtudes não são necessariamente inatas. Elas podem ser buscadas, treinadas e vividas até que se tornem hábitos.

Um livro que mexeu muito com minha alma…

Embora não seja do livro, achei que caberia essa citação aqui:

Wiesel

“Crime e Castigo”

Crime e Castigo

CRIME E CASTIGO

“Neste livro, Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petersburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria – grandes homens, como César ou Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História.”

Ver: “Resenha de Crime e Castigo, de Dostoiévski”

Anna Kariênina” de Tolstói e, agora, “Crime e Castigo” de Dostoiévski foram as únicas obras russas que li.

As duas me marcaram bastante. Cada uma à sua maneira.

Essa obra mostra a pobreza e miséria da população, suas dificuldades, a fome, as doenças, a degradação humana.

Embora os aspectos centrais da obra sejam a culpa pelo crime que Raskólnikov cometeu, as angústias decorrentes dessa culpa e, ao mesmo tempo, os momentos em que ele se coloca acima do assassinato, como se ele estivesse automaticamente perdoado por ser um homem mais evoluído, cujos crimes são perdoados na história, comparando-se a Napoleão, confesso que outros aspectos me marcaram mais. São pontos secundários, que aparecem de forma discreta na história, sem destaque.

Sempre fico atenta aos papeis que as mulheres ocupam nas obras clássicas antigas. As duas obras russas que li, ambas do século XIX, ajudaram a mostrar uma sociedade onde a mulher parecia ter um papel maior do que o que se via na Europa ocidental. Posso estar completamente errada. Essa é uma análise pessoal e superficial, sem maiores pesquisas a respeito.

Mas, ao me basear em obras portuguesas, francesas e inglesas do mesmo período, tenho a sensação que nas obras russas, a opinião das mulheres é mais valorizada e, em ambas, comenta-se sobre a emancipação das mulheres e a necessidade de uma adequação das leis para tornar os tratamentos mais igualitários.

Nas obras da Europa ocidental, parece que a mulher tem sempre um papel subalterno, de alguém que não consegue pensar por si mesma e não exerce uma função decisiva de forma positiva.

Estou enganada?

As análises psicológicas, o início de observações do comportamento, os termos como “monomania” que indicava pensamentos repetitivos… E tudo isso excluído das crenças religiosas e dos aspectos místicos.

O questionamento da existência de Deus…

Cada personagem tem uma construção extremamente cuidadosa, com características individuais muito reais, o que os torna quase “vivos”, pessoas de verdade. Apenas esse aspecto já faz com que eu entenda o motivo de ser um clássico da literatura mundial.

Talvez eu ainda precise de alguns dias para digerir tudo. Não é um livro simples, que engolimos rápido e nos dá bem estar. A leitura é indigesta, repleta de sofrimento e miséria, sentimentos antagônicos, questionamentos vários.

Eventualmente, terei que reler, para conseguir absorver o muito que ficou faltando nessa primeira leitura.