“Crime e Castigo”

Crime e Castigo

CRIME E CASTIGO

“Neste livro, Raskólnikov, um jovem estudante, pobre e desesperado, perambula pelas ruas de São Petersburgo até cometer um crime que tentará justificar por uma teoria – grandes homens, como César ou Napoleão, foram assassinos absolvidos pela História.”

Ver: “Resenha de Crime e Castigo, de Dostoiévski”

Anna Kariênina” de Tolstói e, agora, “Crime e Castigo” de Dostoiévski foram as únicas obras russas que li.

As duas me marcaram bastante. Cada uma à sua maneira.

Essa obra mostra a pobreza e miséria da população, suas dificuldades, a fome, as doenças, a degradação humana.

Embora os aspectos centrais da obra sejam a culpa pelo crime que Raskólnikov cometeu, as angústias decorrentes dessa culpa e, ao mesmo tempo, os momentos em que ele se coloca acima do assassinato, como se ele estivesse automaticamente perdoado por ser um homem mais evoluído, cujos crimes são perdoados na história, comparando-se a Napoleão, confesso que outros aspectos me marcaram mais. São pontos secundários, que aparecem de forma discreta na história, sem destaque.

Sempre fico atenta aos papeis que as mulheres ocupam nas obras clássicas antigas. As duas obras russas que li, ambas do século XIX, ajudaram a mostrar uma sociedade onde a mulher parecia ter um papel maior do que o que se via na Europa ocidental. Posso estar completamente errada. Essa é uma análise pessoal e superficial, sem maiores pesquisas a respeito.

Mas, ao me basear em obras portuguesas, francesas e inglesas do mesmo período, tenho a sensação que nas obras russas, a opinião das mulheres é mais valorizada e, em ambas, comenta-se sobre a emancipação das mulheres e a necessidade de uma adequação das leis para tornar os tratamentos mais igualitários.

Nas obras da Europa ocidental, parece que a mulher tem sempre um papel subalterno, de alguém que não consegue pensar por si mesma e não exerce uma função decisiva de forma positiva.

Estou enganada?

As análises psicológicas, o início de observações do comportamento, os termos como “monomania” que indicava pensamentos repetitivos… E tudo isso excluído das crenças religiosas e dos aspectos místicos.

O questionamento da existência de Deus…

Cada personagem tem uma construção extremamente cuidadosa, com características individuais muito reais, o que os torna quase “vivos”, pessoas de verdade. Apenas esse aspecto já faz com que eu entenda o motivo de ser um clássico da literatura mundial.

Talvez eu ainda precise de alguns dias para digerir tudo. Não é um livro simples, que engolimos rápido e nos dá bem estar. A leitura é indigesta, repleta de sofrimento e miséria, sentimentos antagônicos, questionamentos vários.

Eventualmente, terei que reler, para conseguir absorver o muito que ficou faltando nessa primeira leitura.

Livro: “Anna Kariênina” (Parte 2)

Anna 1

“Pela primeira vez, concebeu com clareza a vida pessoal da esposa, seus pensamentos, seus desejos, e a ideia de que ela podia e devia ter uma vida própria lhe pareceu tão assustadora que tratou de rechaçá-la às pressas.” (reflexões de Aleksiei Aleksándrovitch Kariênin, marido de Anna)

“Devo dizer e deixar bem claro o seguinte: em primeiro lugar, uma exposição sobre a importância da opinião pública e do decoro; em segundo lugar, uma explanação do significado religioso do casamento; em terceiro lugar, se necessário, uma referência ao infortúnio que pode recair sobre nosso filho; em quarto lugar, uma referência ao infortúnio dela mesma.” (organização do pensamento de Aleksiei Aleksándrovitch Kariênin, marido de Anna, com as considerações que ele pensou em lhe fazer ao racionalizar seu comportamento frente à comunicação da infidelidade de Anna).

Um livro do final do século XIX, eu sei!

Mas ainda vejo isso acontecendo. A mulher não é vista como alguém repleto de sonhos, desejos, questionamentos por muitos homens. Ainda há um rebaixamento muito grande da mulher. E suas ações precisam, ainda, ser irrepreensíveis.

Eu sei que isso está mudando. Eu sei! Sei que o preconceito vem diminuindo, que a mulher vem conquistando direitos. O comportamento dos homens tem passado por julgamentos também.

Mas sabe quando a gente ainda sente lá no fundo que ainda falta mudar dentro das pessoas? Lá no íntimo?

Por enquanto, as mudanças e conquistas são daquelas coisas impostas porque fazem sentido, é o correto. Mas dentro das pessoas isso não pode ser imposto. As mudanças reais, aquelas de hábito, que cada pessoa carrega consigo, vêm de aprendizado, vivência, exemplos.

Se meu filho sempre via que eu tirava a mesa após a refeição, eu lavava a louça, organizava a cozinha, e ele me viu fazer isso durante os 9 primeiros anos da sua vida, eu não poderia demonstrar espanto quando, ao me separar, eu pedi sua ajuda para lavar a louça e ele me falou: “eu não vou fazer um trabalho de mulher!”.

Mas escutar aquilo me chocou! Porque eu percebi que não são as palavras que educam, mas os exemplos que somos para os filhos. É claro que não é preciso que um casamento se desfaça para que as mudanças aconteçam. Isso aconteceu com o meu. Não precisa acontecer com o seu, nem de mais ninguém.

Minha torcida é para que a gente saiba ser um exemplo melhor para os nossos filhos. A escola ajuda a educar. Mas o principal papel de construir cidadãos pertence aos pais, à família.

Parece tão óbvio, não é? E por que a gente simplesmente não segue?

Porque nós temos que mudar. Temos que nos vigiar constantemente. Porque é nos pequenos atos que nos traímos: um comentário, um olhar, uma ironia.

O dia em que eu perder a esperança de que sejamos capazes de fazer de nossos filhos cidadãos melhores para o mundo, acho que perco completamente a vontade de viver.

E que cada ser humano receba o respeito que merece.

Livro: “Anna Kariênina”

Anna 1

Autor: Liev Tolstói

Tradutor: Rubens Figueiredo

Editora: Cosac Naify

http://www.livrariacultura.com.br/p/anna-karienina-2928931

A primeira edição do livro foi publicada em 1877.

“Estruturado em paralelismos, o livro se articula por meio de contrastes – a cidade e o campo; as ‘duas capitais’ da Rússia (Moscou e São Petersburgo); a alta sociedade e a vida dos mujiques; o intelectual e o homem prático etc. Os dois principais personagens, Liévin, um rico proprietário de terras, e Anna, uma aristocrata casada, só se encontram uma vez, em toda a longa narrativa. Mas nem por isso estão menos ligados, pois a situação de um permanece constantemente referida a situação do outro.” (Livraria Cultura)

Terminei esse livro ontem à noite. Há tantas coisas que quero deixar registrado sobre as minhas impressões do livro que, provavelmente, terei que escrever aos poucos, seguindo cada linha do meu pensamento.

Amanhã é o Dia Internacional da Mulher. E há tantas informações no livro sobre as dificuldade das mulheres, que eram presentes naquele final do século XIX; e muitas delas ainda são presentes nesse início de século XXI.

Como alguns escritores conseguem criar e dar vida aos personagens de tal forma a torná-los quase reais, de carne e osso, e termos a sensação de que estão conosco, compartilhando sua história, criando uma amizade que será eterna?

Anna Karenina. Emma Bovary. As mais famosas adúlteras da literatura universal.

Na literatura portuguesa, eu ousaria citar Luísa de “O Primo Basílio”.

E a todas elas sempre coube o mesmo final trágico. Não havia a possibilidade de deixá-las vivas. A morte era obrigatória. Começamos a leitura sabendo o desfecho. E o que há entre o início e o final das histórias dessas mulheres comuns? Muita insatisfação, ociosidade, tédio.

Há algum homem adúltero na literatura que tenha feito fama? Que tenha morrido por não ter como lidar com essa situação perante a sociedade? Que tenha sido condenado pelos amigos e conhecidos? Que tenha sido chantageado?

Os três exemplos de mulheres que citei são poucos. Há inúmeros romances que descrevem o adultério feminino. Condenar os livros ou os escritores é muito fácil. Quantos param para analisar as motivações?

Traição. Mentira. Enganação. Falsidade. É fácil condená-las e desejar sua morte e que sejam desmascaradas, destruídas, insultadas.

Anna Karenina é uma mulher sedutora e que exerce um fascínio nos homens que travam contato com ela. Possui uma beleza indescritível. E é inteligente. Ainda assim, creio que a maioria das pessoas não tenha empatia por ela na leitura do livro (ou no filme de 2012 baseado na obra de Tolstói).

Ela se tornou uma escrava. Foi uma escrava a vida toda. Foi escrava da situação com o marido, que não lhe cedia o divórcio e a impediu de ver o filho. Virou uma escrava da situação com o amante, de quem dependia e que se tornou a única referência que ela passou a ter no mundo, já que a sociedade não a aceitava mais. Escrava das aparências; das falsidades.

E o pior é que não consigo achar que essa mulher (personagem) esteja tão distante do que vivemos hoje. É claro que a mulher conquistou muitos direitos. É claro que há inúmeras leis que nos protegem. Mas dentro de casa, na vida real, no trabalho ou na sociedade, quanto ainda falta para que sejamos tão respeitadas quanto os homens?